O Estado da Paraíba tem se destacado no cenário nacional na área de ciência, tecnologia e inovação pela execução de dois grandes projetos de pesquisa científica: a construção do radiotelescópio Bingo/Abdus, uma colaboração internacional de pesquisa em processo na Paraíba, e a formação do Sistema Nacional de Laboratórios de Biomateriais, o SISBio, tendo à frente o Laboratório de Avaliação e Desenvolvimento de Biomateriais do Nordeste (CertBio), sediado na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). O Bingo, juntamente com o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), coordena a Conferência Livre: Grandes Projetos de CT&I que vai acontecer em Campinas, nos dias 18 e 19 de abril.
Contudo, de acordo com os coordenadores desses projetos, o andamento dos trabalhos exige um esforço financeiro, de gestão e de planejamento que demanda recursos que dependem da máquina pública, por ser o principal financiador. É nesse ponto crítico que os cientistas precisam se tornar articuladores políticos. Tal é a motivação que leva pesquisadores, gestores públicos, analistas especializados, integrantes do Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação envolvidos em projetos científicos de grande complexidade, a propor a realização da Conferência Livre: Grandes Projetos de Ciência, Tecnologia e Inovação, no âmbito da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Coordenadores do Bingo e do CertBio estão na mesma rodada de debates com cientistas de projetos como o Sirius, o equipamento de grande porte usa aceleradores de partículas para produzir um tipo especial de luz, chamada, luz síncrotron. “Essa luz é utilizada para investigar a composição e a estrutura da matéria em suas mais variadas formas, com aplicações em praticamente todas as áreas do conhecimento” (informações no cnpem.br). Está em desenvolvimento no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), onde será realizada a Conferência Livre: Grandes Projetos de CT&I.
Ou, ainda, em diálogo com Claudia Mendes, do projeto Telescópio Gigante Magalhães, o GMT Brasil, que “fará parte da próxima geração de telescópios gigantes terrestres que promete revolucionar nossa visão e compreensão do Universo. Ele está sendo construído no Observatório Las Campanas, no Chile” (gmt.iag.usp.br). Isso só para citar alguns, pois cerca de 15 projetos de grande porte considerados estruturantes para o desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil levantam propostas para viabilizar seus desenvolvimentos.
Marcus Vinicius Lia Fook, coordenador do Certbio, informa que o Brasil opera com déficit na balança comercial de US$20 bilhões, mais ou menos R$ 100 bilhões, só na área de produtos para saúde que envolve medicamentos, fármacos e biomateriais. A projeção é de que esse déficit aumente progressivamente.
O Certbio/UFCG tem a competência de produzir determinados equipamentos que estão sendo importados. “No caso de materiais como cimento ósseo, fio de sutura, a substância em pesquisa psilocibina, e outros, podemos produzir, desenvolver tecnologia para que seja apropriada por empresas nacionais, atendendo tanto o mercado privado quanto o SUS (Sistema Único de Saúde), que é o maior objetivo”.
Marcus Fook percorre os níveis decisórios do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em Brasília, mobilizando agentes políticos a fim de estabelecer o Sistema Nacional de Laboratórios de Biomateriais, SISBio.
“A rede está previamente formada, integrando 16 laboratórios sediados em universidades federais do Rio Grande do Sul até a Amazônia. A expectativa é de que a coordenação do SISBio esteja no CertBio/UFCG.
O sucesso do empreendimento do SISBio irá impactar a balança comercial brasileira, o atendimento à população que usa o SUS, o sistema de saúde privado, a economia interna, o desenvolvimento tecnológico inovador e, ainda, a especialização de recursos humanos nas universidades.
“Hoje a balança comercial nesse setor é desfavorável, e saúde é também uma questão econômica, estratégica, porque o Brasil depende disso. Na pandemia faltou máscara descartável, produto elementar e fácil de desenvolver. Quanto a isso, nós temos uma transferência tecnológica com a Universidade de Brasília UnB, e tem uma empresa produzindo tecnologia desenvolvida pela UFCG e UNB, lembra o pesquisador.”
A proposta é que essa rede opere em sinergia de ações e racionalize investimento, cada instituição tem sua capacidade instalada, a qual será ordenada segundo as prioridades detectadas pelos planos estratégicos, a partir dos Ministérios. A ideia é que essas tecnologias migrem para o SUS.
Marcus Fook apresentou recentemente a proposta de formação do SISBio para a Ministra da Ciência e Tecnologia Luciana Santos e para a então ministra da Saúde Dra. Nísia Trindade, ressaltando que o Brasil não pode perder a oportunidade de ser a referência na América Latina em sua psilocibina. A substância se mostrou extremamente eficaz no combate à depressão; já foi isolada nos laboratórios do Certbio, e a tecnologia está pronta para novos patamares da pesquisa.
Uma das instituições que fortalece as ações é a Sociedade Latino-Americana de Biomaterias, Tecidos de Engenharia e Órgãos Artificiais, da qual Marcus Fook já foi presidente. O tema foi, igualmente, levado em pauta nesta sociedade. “Isso traz para Paraíba uma oportunidade de ser um polo em saúde; é outra oportunidade que o Estado da Paraíba, não pode perder. Nós temos o Nutes (o Núcleo de Tecnologias Estratégicas em Saúde, na UEPB). E a Paraíba não pode perder essa janela que se abra para se tornar uma referência.
Marcus Fook salienta que “o Estado é o vetor de desenvolvimento que pode induzir o estabelecimento da Paraíba como sinônimo de biomateriais no Brasil, e temos uma compreensão a partir do secretário Claudio Furtado, desde quando ele foi presidente da Fapesq (Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba) e agora como Secretário estadual de Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior.
O governa da Paraíba, por meio da Secties e da Fapesq, financiou a pesquisa para o desenvolvimento da máscara cirúrgica biodegradável, com material capaz de reter o vírus da covid-19 (SARS-CoV-2) e matá-lo. Além das máscaras, o Certbio desenvolveu também uma quitosana em gel que, diferente do álcool em gel, também é virucida. Foi o Edital Covid, com um investimento de R$ 102.259,31.
Atualmente, está em execução o Projeto Psilocibina: Extração, caracterização e avaliação do potencial eixo MicrobiotaIntestino-Cérebro - Edital Fapesq-Fapesp 2022 cujo investimento pela Paraíba foi de R$ 199.559,48. Um total de 301.818,79.
Em outra área de pesquisa, a astrofísica cosmológica, está o projeto para a construção do radiotelescópio Bingo. O Bingo é o maior radiotelescópio da América Latina, mais bem posicionados para fazer a descoberta da expansão do universo através da medição das oscilações acústicas bariônicas. Está sendo construído no Sertão da Paraíba, em Aguiar. O projeto recebeu do Estado da Paraíba o fomento de R$ 13 millhões por meio da Secties e Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba, Fapesq-PB.
Em função das especificidades deste equipamento, o projeto foi ampliado e agregou parceiros internacionais de observação espacial. O Bingo/Abdus, como passou a ser chamado, incorporou uma tecnologia, phased arrey, e, com isso, é possível integrar uma conjunção de outros dois radiotelescópios construídos pela China posicionados em lugares estratégicos que percorrem uma faixa mais ampla do espaço.
É um projeto espacial estratégico para o Brasil, sendo mencionado dentre os tópicos da “Declaração Conjunta entre a República Federativa do Brasil e a República Popular da China sobre o aprofundamento da Parceria Estratégica Global - Pequim, 14 de abril de 2023”.
Em vista destes dois exemplos mencionados, o laboratório CertBio e o projeto Bingo, como grandes projetos de ciência, tecnologia e inovação, não há, até o momento uma definição oficial, institucional, para esta categoria. O que são, ou quais são os “grandes projetos de CT&I no Brasil?”
Para Amílcar Rabelo, um dos coordenadores do Bingo, esta é uma das principais preocupações desta conferência livre. “Os grandes projetos em CT&I são projetos estratégicos nacional e devem ser nucleadores. Eventualmente, os grandes projetos deveriam fazer parte da estratégia nacional, como se encontra na Portaria MCTI nº 6.998, de 10.05.2023. Os casos ou exemplos usados aqui (há muitos outros) são a) grandes infraestruturas, como o Sirius, o Bingo; b) redes nacionais, como o PELD-CNPq; c) associações em grandes colaborações internacionais (multinacionais), como a associação do Brasil ao CERN (Organização Europeia para a Investigação Nuclear). Esta definição, que tem por objetivo balizar políticas públicas, deve por um lado ser razoavelmente precisa, e, por outro lado não tão restritiva e possível de no futuro alcançar casos não pensados na presente definição”.
Márcia Dementshuk
Ascom Secties
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