Um projeto de pesquisa científica financiado pelo governo da Paraíba por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties/Fapesq-PB) e realizado no âmbito da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), desenvolve a construção de uma plataforma de inteligência digital voltada ao acesso de uma energia justa e sustentável. A plataforma Enetrix é idealizada por pesquisadores paraibanos e será o produto piloto para um projeto internacional do Instituto das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa (Unitar/ONU).
O secretário da Secties, Claudio Furtado, declarou que o Governo da Paraíba tem investido no potencial dos seus pesquisadores e na capacidade na área de ciência, tecnologia e inovação. O esforço faz com que ações como a da Enetrix possibilite o desenvolvimento na Paraíba de uma plataforma que faz o levantamento de todos os projetos na área de energia, acordos, legislação, que estão em desenvolvimento ou já foram desenvolvidos no Nordeste, no Brasil, e está sendo ampliado para outros países. “Isso é muito importante para a questão de pesquisa: foi reconhecido pela sociedade como trabalho extremamente importante, sendo incorporado pelo Unitar, pela ONU. Isso mostra que investir em boas ideias em capacidade de pesquisadores no estado tem retornos imediatos”, afirma Furtado.
De acordo com o secretário, foi investido em bolsas de pesquisa científica e auxílio a pesquisadores cerca de R$ 500 mil reais, efetivado por meio da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba. Um investimento voltado ao tratamento de um problema tão fundamental na atualidade que é a questão da energia.
Conforme a narrativa de Iure Paiva, do departamento de Relações Internacionais da UFPB e coordenador geral do projeto, o governador João Azevêdo, ao lado do secretário da Secties, Cláudio Furtado, examinou a perspectiva de desenvolver uma tecnologia que interessa à Paraíba, mas de utilidade para o mundo. “É, de fato, não estar preocupados apenas com as questões locais, mas entender a globalidade do mundo”, afirma Iure Paiva.
A Paraíba está construindo um protagonismo na diplomacia energética internacional. No dia 26 de março o projeto será lançado no "Data Diplomacy Academy (DDA)" na ONU, em Nova York. O evento trata sobre o desenvolvimento de soluções tecnológicas, publicação de estudos, cursos de capacitação, eventos temáticos e estabelecimento de parcerias, com envolvimento da ONU.
Será criado um espaço permanente na ONU voltado a promover soluções em ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento da diplomacia multilateral. A ação será coordenada e executada em conjunto com o Unitar, parceiro estratégico internacional da plataforma Enetrix, que participa na execução e disseminação mundial do projeto, com a UFPB e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
“O projeto interessa ao Unitar porque o mesmo enxerga que com essa ferramenta as negociações internacionais no âmbito de energia tem a capacidade de avançar um outro patamar. Antes as informações estavam perdidas, complicado para reuni-las; agora estarão acessíveis e acessáveis de forma inteligível”, explica Paiva.
A justiça é concretizada exemplificada em um caso dado como exemplo, da representatividade do país de Fiji, (Oceania), que tem apenas três representantes diplomáticos para trabalhar na ONU, enquanto o Estados Unidos tem mais 150.
Para obter uma informação estratégica, Fiji teria que destacar muitos recursos humanos, muito tempo e recurso financeiro. Com a plataforma, tanto o Estados Unidos como Fiji terão acesso em nível de igualdade. Esse é um componente de justiça; vai trazer maior equilíbrio para o conhecimento para as negociações internacionais.
“É uma visão de impacto porque não é uma questão de apenas dar acesso à informação, no sentido de ter transparência, mas também criar uma condição para acompanhar o desenvolvimento da nossa diplomacia”, considera Paiva.
A plataforma Enetrix integra o projeto científico “Soluções em Data Diplomacy aplicadas ao desenvolvimento da cooperação energética na Paraíba e no Mundo”. Foi destaque na 1ª Conferência Livre: Soluções em ciência, tecnologia e inovação aplicadas ao desenvolvimento da diplomacia energética brasileira e internacional. O evento ocorreu na última semana em João Pessoa (PB) e é preparatório para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.
É uma ferramenta que está se expandindo para o mundo, porque assim como se tem acesso às fontes dos acordos do Brasil é possível buscá-los em outros países. Um dos apoios dados pelo Unitar é articular os contatos nos países para compreender o sistema de informação aberta gerado pelo país e trazê-lo para a plataforma.
Segundo Paiva já foram mapeados mais de 40 países nos cinco continentes. Portanto, haverá informações globais a partir de dados abertos. Há um compromisso com a transparência, com o acompanhamento das políticas e sua eficácia, conforme observa o pesquisador: “Nós temos o compromisso com uma diplomacia inclusiva, justa e sustentável. A aplicação desses elementos na sociedade será detectada pela ausência ou pela presença. A ferramenta vai permitir observar se nós temos esses elementos presentes ou não”.
Paiva explica que é uma tecnologia libertadora e transformadora. O que representa a diplomacia energética está na atitude de como os estados dialogam entre si, organizações internacionais e outros atores de modo que a gente consiga vislumbrar como os países e as organizações se comportam.
A parte de desenvolvimento digital é realizada pelo laboratório de inteligência artificial ARIA, também da UFPB. Segundo a pesquisadora, Yuska Aguiar, por mais que o público alvo final seja especializado, a plataforma não é restritiva a esse público; e mesmo esse público vai ter demandas diferentes, pessoas tem intenções diferentes sobre a ferramenta. Por isso, o trabalho se apoia em uma perspectiva de proporcionar uma experiência de uso e para isso é necessário conhecer as demandas, as necessidades, as características desses públicos diversos.
Rafael Magalhães, do laboratório de IA Aria/UFPB, salienta que o grupo de pesquisa identificou outros interessados na busca como informações, além da gestão pública: “a indústria tem interesse nessas informações para direcionar os investimentos, abrir mercados; o terceiro setor, organizações da sociedade civil terão um olhar mais atento à necessidade humana e social. E a inteligência artificial, ela trata esse conjunto todo de informação”.
Os pesquisadores tentam identificar esses perfis e moldar a interação a esses diferentes perfis, com possibilidade de configuração de personalização, e guiando o usuário para os seus objetivos.
“A gente vai estar numa tendência muito voltada para as interfaces naturais, esclarece Yuska, “é utilizar os recursos que os humanos usam: conversar com a ferramenta, por exemplo. Como é que eu uso a minha linguagem natural para fazer uma pergunta? A resposta que a ferramenta me dá é útil? ela se apresenta de uma forma fácil de compreender de correlacionar as informações?”
A acessibilidade também passa pelo aspecto mais abrangente, como por exemplo incluindo recursos de leitores de tela para as pessoas não videntes e recursos de libras para as pessoas não ouvintes.
O desafio é garantir que o dado seja seguro do ponto de vista de confiabilidade. E Yuska Aguiar retoma o fato de que existe uma diferença muito grande entre o dado ou a informação estar disponível e acessível. A inteligência artificial começa a atuar na consolidação de diferentes repositórios fazendo cruzamento dos dados para obter a informação. “É o que vai dar a possibilidade de auxiliar na tomada de decisão mais assertiva. A inteligência artificial vem permitir essas flexibilizações dentro de conjunto muito grande de dados. E a plataforma vai se expandir conforme for ampliando para outros países.
A aplicação é de como usar a tecnologia de maneira humanizada através da inteligência artificial para sair de uma análise descritiva para uma análise mais qualitativa em função da necessidade do interlocutor.
Matéria publicada no jornal A União em 17/03/24 Pág 19.
Márcia Dementshuk
Ascom Secties
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