Dois grandes eventos a serem realizados na França e em Portugal têm como objetivo promover o processo de internacionalização do forró como expressão artística tradicional e o seu reconhecimento como patrimônio imaterial da humanidade. O projeto foi inicialmente idealizado pelo Governo da Paraíba, por meio da Secretaria de Estado da Cultura da Paraíba (Secult-PB), em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco (Secult-PE), a Associação Cultural Balaio Nordeste e o Fórum Nacional de Forró de Raiz, e no momento já conta com o apoio de uma série de outras instâncias políticas e culturais brasileiras e internacionais.
Na manhã de 30 de maio deste ano, por exemplo, em Paris, a comitiva brasileira vai se reunir na Embaixada do Brasil na França com representantes diplomáticos, produtores culturais e artistas brasileiros e franceses para um diálogo sobre o que vai ser proposto. Já na tarde do mesmo dia, a reunião é na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), com o objetivo de reforçar o pedido para que o forró seja reconhecido como patrimônio imaterial da humanidade.
Em paralelo a isso, dentro de uma programação internacional que leva centralidade ao forró enquanto ritmo e dança, vai ser realizado no Porto, em Portugal, nos dias 1º e 2 de junho, o Fórum Internacional do Forró de Raiz, que vai acontecer no Instituto Pernambuco Porto.
Vão ser dois dias de eventos, com palestras, debates e mesas redondas durante a manhã e a tarde, sobre a importância do fortalecimento do forró como política pública e como patrimônio cultural e identitário de povos como o do Nordeste, e shows de artistas brasileiros de forró durante a noite.
O secretário de Estado da Cultura da Paraíba, Pedro Santos, reconhece que alçar o forró como patrimônio imaterial da humanidade é um trabalho de longo prazo, que passa por uma série de análises técnicas, culturais e antropológicas, mas ao mesmo tempo ressalta a importância que uma mobilização destas representa.
“É a Paraíba quem primeiro puxou esse projeto, mostrando a força e a resistência de nosso povo. E para a gente é uma honra tremenda chegar até a Unesco para sermos ouvidos, para dizermos que temos uma cultura que é genuinamente nossa e que precisa ser salvaguardada”, destacou o secretário.
Ele pontuou ainda que a mobilização que está em curso é fruto de uma mobilização de longo prazo, que antes já tinha conquistado o reconhecimento nacional. “Chegaremos lá. Isso é certo”, frisou em tom otimista.
O reconhecimento nacional que Pedro Santos fala foi a decisão por parte do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de transformar o forró como patrimônio imaterial nacional, um pré-requisito necessário antes de se chegar à Unesco. Esse reconhecimento aconteceu em 2021, depois de uma iniciativa que foi proposta pela Paraíba e que com o tempo recebeu a adesão, o apoio e a coparticipação de outros 14 estados brasileiros. Nesta nova etapa, a busca agora é por apoios internacionais.
A secretária de Cultura do Estado de Pernambuco, Cacau de Paula, que também participa da mobilização em prol do forró como patrimônio imaterial da humanidade, destaca as origens do ritmo para a identidade regional. “O forró é parte da alma e da identidade nordestina. Todos nós de raízes nordestinas somos imediatamente tomados pela sensação de pertencimento ao ouvir um acorde musical de uma sanfona”, destacou.
Ela destaca que também acredita no sucesso da empreitada. “Estamos certos de que todo esse processo que começou no Brasil, mas que já ganhou o mundo, funciona como mais um passo importante no pleito de perpetuar e fortalecer as tradições econômicas e criativas em torno do forró”, afirma Cacau.
Joana Alves, por sua vez, presidente-fundadora da Associação Cultural Balaio Nordeste, que tem sede em João Pessoa, é uma das principais lideranças deste projeto. Ela destaca que sua mobilização começou em 2012 e que foram necessários nove anos até conseguir a salvaguarda do Iphan. Desta vez, ela calcula que o processo será mais rápido, mas que ainda assim deve durar até 2026 ou 2027.
“Nós estamos indo até Paris, até a ONU e mais especificamente a Unesco, para dizer que queremos o nosso patrimônio reconhecido. Mas é um processo lento mesmo. O Iphan, por exemplo, ainda precisa publicar e enviar à ONU a ação de salvaguarda do patrimônio nacional com relação ao forró”, explicou Joana.
Ela enfatiza, também, alguns passos do processo. De acordo com Joana Alves, caberá à Unesco realizar consultas públicase pesquisas para saber se existe mesmo essa expressão cultural como fonte identitária de um povo e se a comunidade local reconhece essa expressão como sendo sua. “É necessário todo um mapeamento, toda uma pesquisa em torno do tema”, resume.
Ao todo, 30 países já subscreveram um abaixo-assinado em apoio à causa nordestina e brasileira para que o forró seja reconhecido como patrimônio imaterial. E, segundo o secretário Pedro Santos, um reconhecimento desses facilita a captação de recursos para a proteção e para a disseminação do forró enquanto expressão artística.
Joana Alves, por sua vez, destaca mesmo é a proteção do forró nas festas juninas. “As festas de São João estão excluindo o forró. Isso poderá ser revisto com uma chancela internacional que o reconhece como patrimônio da humanidade”, conclui.
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