Com o apoio de órgãos federais, várias instituições do sertão do Cariri, no Ceará, reforçaram a candidatura da Chapada do Araripe a patrimônio da humanidade, durante audiência na Comissão de Turismo da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (6).
O dossiê sobre a região deve entrar na lista do Brasil para 2024, a ser submetida à apreciação da Unesco, órgão da ONU para ciência, educação e cultura. Além do Ceará, a Chapada do Araripe abrange áreas de Pernambuco e Piauí marcadas por pluralidade cultural e relíquias paleontológicas, arqueológicas e paisagísticas.
O presidente da Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri, Alemberg Quindins, acrescenta que a região guarda registros da evolução do planeta ao longo das eras geológicas. “Se nós fizéssemos uma viagem de drone vindo da África ou da Europa, nós iríamos compreender que a Chapada do Araripe é um relicário, uma testemunha do período cretáceo, da divisão desses continentes", destacou.
A Chapada do Araripe tem áreas de Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica, abrigou uma das primeiras florestas nacionais (Flona) em 1946, e se tornou o primeiro Geoparque da Unesco nas Américas em 2006, conciliando ações de educação, turismo, geoconservação e empoderamento da população local.
Candidatura
Ao todo, 129 instituições estão articuladas, desde 2019, na candidatura a patrimônio mundial. O dossiê técnico-científico ficou a cargo da Universidade Regional do Cariri, com financiamento do governo cearense.
O diretor regional do Sesc-Ceará, Henrique Javi, ressaltou a valorização da cultura e dos modos de vida do sertanejo presentes no mote da campanha: “Patrimônio dá humanidade”. “Tem uma coisa importante nessa proposição, que é não utilizar o patrimônio da humanidade como relação de posse: é um ‘dá’ com acento agudo que torna verbo essa palavra. Todo esse empenho é para mostrar que o reconhecimento de áreas como essas provoca humanidade nas pessoas e traz para as pessoas essa ancestralidade que nos faz reconhecer como humanos”.
Técnica do Instituto Brasileiro de Museus, Sônia Regina Florêncio avalia que a autenticidade da candidatura está no respeito ao cotidiano da Chapada do Araripe. “É a primeira vez que a gente vê uma proposta de candidatura construída assim, de baixo para cima. E pode se tornar referência internacional porque os organismos internacionais têm buscado novas práticas e orientações para que o conceito de ‘valor universal excepcional’ seja ressignificado a partir de proposições dos grupos sociais e comunidades, sobretudo na América Latina”.
O diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Andrey Schlee, acompanha candidaturas brasileiras bem-sucedidas desde 2012, como Cais do Valongo, Sítio Burle Marx e Paraty, no Rio de Janeiro; e a Pampulha, em Belo Horizonte. Schlee disse que o dossiê técnico da Chapada do Araripe tem “qualidade invejável” e que caberá ao Iphan ser um facilitador da candidatura.
“O trabalho ainda vai ser árduo porque a gente sabe que é preciso mudar a visão de que patrimônio mundial é o castelo europeu e trocar literalmente a cinderela por um mestre (ou mestra) que está trabalhando no ferro e no couro, lá no Cariri”.
Organizador da audiência, o deputado Luiz Gastão (PSD-CE) aposta no desenvolvimento socioeconômico do Cariri e vai buscar o apoio formal da Câmara dos Deputados à candidatura da Chapada do Araripe junto à Unesco. “Fortalecendo todos esses argumentos, ter a chancela não apenas da Comissão de Turismo, mas também das Comissões de Cultura e de Meio Ambiente, representando o apoio da Câmara a essa ação”.
Entre bens culturais e naturais, o Brasil conta atualmente com 23 sítios na lista de patrimônio da humanidade.
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