O Instituto Brasileiro de Gografia e Estatística (IBGE) contará com o apoio dos Ministérios da Justiça, do Planejamento, dos Povos Originários e da Defesa para concluir o Censo Demográfico da terra indígena Yanomami. O termo de cooperação interministerial foi assinado nesta quinta-feira (02) pelos ministros Flávio Dino, Sônia Guajajara e Simone Tebet. O ministro da Defesa foi representado pelo general José Eduardo Pereira.
A operação terá início na próxima segunda-feira (6) e tem previsão para ser concluída de 20 a 30 dias, a depender das condições climáticas de acesso à região. Os recenseadores já coletaram dados de 50% dos moradores do território. Segundo o IBGE, resta a metade final da população que vive em áreas de acesso especialmente complexas.
Durante a solenidade, Flávio Dino destacou a importância do recenseamento Yanomami para a garantia dos direitos indígenas e o combate à desinformação. "Nós estamos enfrentando um negacionismo censitário, que é uma das modalidades perversas desses múltiplos negacionismos que se implantaram no nosso país. Celebramos o hino nacional e dizemos nossa pátria, a mãe gentil dos filhos deste solo. Muito bem, para ela ser gentil, é preciso que nós saibamos onde estão e quem são os filhos e filhas desta pátria. E somente o recenseamento pode responder a isto", afirmou o ministro da Justiça.
O ministro da Justiça também criticou a situação de abandono dos povos Yanonami e classificou como genocídio o que tem ocorrido na região. "A lei que trata de genocídio no Brasil neste caso explica que a morte de centenas de pessoas e crianças por omissões, dolosas ou culposas, se insere neste conceito, infelizmente, e nós estamos aqui dizendo que acabou o tempo da falta de lei na Amazônia brasileira e no território Yanomani".
Para a ministra Sônia Guajajara a calamidade em que se encontra o povo Yanomami é reflexo do abandono do poder público, e o problema foi acentuado nos últimos dois anos. "As crianças yanomami hoje morrem de desnutrição, por contaminação de mercúrio, por malária, doenças consideradas tratáveis. Elas ficaram ali totalmente abandonados, a mercê da própria sorte", criticou a ministra.
Neste sentido, Guajajara disse que o recenseamento do povo Yanomami será fundamental para saber qual é a real situação da população, bem como as necessidades de atendimento médico, de distribuição de alimentos e outras necessidades básicas. "É uma área de difícil acesso, o território é muito grande, as comunidades são muito espalhadas e o IBGE tem encontrado dificuldade de estrutura, de logística, pra chegar nas áreas mais remotas. Então, é muito importante essa frente, para que a gente possa contabilizar e saber qual é a nossa população e de fato o que precisa ser feito em cada lugar".
A ministra do planejamento, Simone Tebet, destacou a importância do trabalho do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para fazer um diagnóstico da situação da população brasileira e, especificamente, do povo Yanomami. "Poucos institutos fazem esses estudos mostrando quem somos, quanto somos, como vivemos, quais são as nossas expectativas, nossos sonhos, nossas esperanças. É isso que o IBGE vai dizer: quantas crianças são, quantos anciões são, quais são as características, pra que a gente possa fazer uma comparação histórica dos últimos dez anos."
A ministra Simone Tebet também fez um paralelo sobre o ouro levado pelos portugueses durante a colonização do Brasil e a extração ilegal de ouro das reservas indígenas da Amazônia, que posteriormente é vendido no exterior. "Lamentavelmente hoje o ouro é levado para fora do país de forma muitas vezes ilegal, sem nenhum critério, contaminando os rios, contaminando o solo, contaminando as florestas e contaminando as nossas crianças."
De acordo com o presidente interino do IBGE, Cimar Azeredo, a expectativa é que 10 mil a 15 mil indígenas Yanomami sejam recenseados no mês de março. Até o momento, os recenseadores já coletaram dados de 21.579 pessoas que vivem no território Yanomami em Roraima e no Amazonas. Ao todo, o IBGE estima um contingente de 38 pessoas para garantir a coleta de dados. As equipes usarão, em diferentes turnos, três helicópteros da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
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