O Colégio Pedro II (CPII) vai retomar as atividades presenciais a partir do dia 22 de novembro. A portaria nº 2.151/2021, que regulamenta o retorno gradual, foi publicada ontem (8) pelo reitor, Oscar Halac, e determina o cumprimento de medidas de segurança contra a disseminação da covid-19 no ambiente escolar.
O CPII pertence à rede federal de ensino e possui 14 campi no Rio de Janeiro, incluindo as cidades de Niterói e Duque de Caxias, além de um Centro de Referência em Educação Infantil em Realengo, na zona oeste da capital. São, ao todo, cerca de 13 mil estudantes da educação infantil ao ensino médio e de pós-graduação.
A retomada das atividades presenciais visa cumprir a decisão judicial do Tribunal Regional Federal da 2ª Região. O professor Matheus Castro, de Duque de Caxias e representante docente no Conselho Superior do CPII (Consup), explica que a decisão será cumprida, embora o colégio discorde da medida.
“Essa decisão judicial ignora a questão da autonomia institucional, ignora a lei que prevê a possibilidade da manutenção do ensino remoto até o final desse ano. Sobretudo por esse prazo de duas semanas, não leva em consideração o conjunto de transtornos que leva para a comunidade escolar. A questão da alimentação, a questão do RioCard, providenciar uniforme, a questão da reorganização da vida das pessoas envolvidas, né? Então a gente cumpre, mas não temos acordo com aquilo que foi aprovado nessa decisão judicial”.
Segundo o colégio, o retorno será híbrido e gradual, com atividades definidas pela direção de cada campus e seguindo as orientações do Plano Emergencial de Protocolos. A portaria determina que as atividades acadêmicas e administrativas devem ser cumpridas em regime híbrido e alternado em dias e turnos, respeitando as medidas de ventilação, distanciamento e uso de máscara e higienização das mãos. Servidores com comorbidade, acima de 60 anos e com filhos pequenos podem permanecer em regime de teletrabalho.
O plano traz também recomendações em relação a casos suspeitos e confirmados de covid-19 e propõe a realização de reuniões online com estudantes, responsáveis e servidores, antes do retorno presencial, para explicar as especificidades de cada campus.
No campus Centro, por exemplo, a direção definiu que os conteúdos continuarão a ser ministrados de forma online, síncrona e assíncrona, como vem ocorrendo desde o começo do ano. As atividades presenciais se darão no contraturno, com turmas reduzidas pela metade e ocupação máxima de 20% das turmas por turno.
De acordo com Castro, o Consup já decidiu que essas atividades presenciais não serão obrigatórias para os estudantes, conforme a Resolução 181. Ele explica que, dessa forma, o colégio salvaguarda os aspectos legais, como o lançamento de faltas, e pedagógicos, para não prejudicar ainda mais os estudantes.
“O lançamento de faltas gera uma série de inconveniente, né, a possibilidade de reprovação, de acionar o Conselho Tutelar, etc. Então a gente, primeiro, quer passar essa tranquilidade para as famílias, nesse momento tão delicado. E em segundo lugar é a salvaguarda pedagógica. A gente entende que é necessária a manutenção da atual estrutura de ensino remoto. A gente quer evitar mais prejuízo pedagógico, no caso de estudantes que não pudesse frequentar a escola ficassem também sem as aulas, né?”
Aluno do terceiro ano do Campus Centro, Arthur Sudo concorda que a volta às aulas presenciais nesse momento não trará benefícios para os estudantes, em meio às provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), marcadas para os dias 21 e 28 de novembro.
“Pelo que eu tenho visto nos grupos, essa volta não está sendo muito bem recebida pelos concluintes. As pessoas não estavam preparadas para isso, né. A gente já estava organizado para terminar o ano do Ensino a Distância (EaD), fazer o Enem e é isso. Voltar do nada, assim, logo depois do Enem, ter que arrumar tudo para se preparar para voltar às aulas, isso fica um pouco pesado. Porque a gente vai voltar para ter o quê? Duas, três semanas de aula no máximo e vai acabar. Achei bem ilógica essa decisão”, observou.
O professor Matheus Castro explica que o CPII se organizou desde o início da pandemia de forma a não deixar que nenhum estudante fosse prejudicado pela impossibilidade de assistir as aulas remotas, dada a diversidade social atendida pela instituição.
“A gente deu o tratamento mais adequado possível que a situação permitiria. O colégio mobilizou todos os recursos possíveis, tanto para ter um auxílio emergencial próprio do colégio, por uma situação até mesmo de alimentação, de sobrevivência das famílias. Também teve recurso para subsidiar minimamente a questão de um aparelho e da internet, para ter o acompanhamento de aulas”.
De acordo com ele, pela demora inerente para compras e liberações no setor público, além de cortes de verbas, os repasses só foram concluídos em novembro passado.
“Como é que a gente voltaria a todo vapor com essas interações remotas se os setores que, em tese, mais precisariam do apoio, não seriam contemplados? Seria uma grande incoerência com os valores e princípios que o colégio defende. Diante disso, a gente fez a opção de ao longo do ano de 2020 ter atividades pedagógicas remotas, entretanto elas não contabilizariam para a carga horária”.
Com a distribuição dos auxílios concluída, o ano letivo de 2020 ocorreu com aulas remotas de fevereiro a junho de 2021 e o ano letivo de 2021 começou remoto em julho, com previsão para terminar em março de 2022 com aulas presenciais.
“A gente sabe que esse modelo passa longe do ideal, mas ele fez o que se propunha, que era preservar vidas, preservar a saúde e a integridade da comunidade escolar, dos servidores, servidoras, crianças, jovens e suas famílias, né? Com isso, eu creio que a gente fez o máximo de esforço possível para não deixar ninguém para trás e tratar com o máximo de humanidade um período tão difícil da nossa história”, afirma Castro.
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